Almanaque vem do árabe al-manakh, que é o "lugar em que o camelo se ajoelha". Ponto de reunião dos beduínos para conversar e trocar informações sobre o dia-a–dia.


quinta-feira, 29 de dezembro de 2005

32º DIA - Feliz Ano Novo

Um ano tem 365 dias, 52 semanas, 8.760 horas, 525.600 minutos e 31.536.000 segundos - alguns mais perfeccionistas dirão que as contas não são precisas porque usam as medidas do tempo humano, e não as interações astronômicas e astrofísicas. Dito isso, pode-se chegar à conclusão de que, para se ter um ano novo, bastaria esperar a passagem desses 31.536.000 segundos.
Particularmente o ano me parece formado pelo dia e pela noite, e nos intervalos pelo amanhecer e pelo crepúsculo; pelas estrelas e pela dança estática da lua e suas quatro faces, que marcam o fluxo da vida; por quatro distintas estações - meio confusas nos trópicos vamos admitir – mas que nos permitem regular o que plantamos e o que colhemos. Um ano é o que ganhamos e o que perdemos, mas sobretudo, o que aprendemos. Um ano é a fruta da estação. Um ano é aproximadamente 42.048.000 batidas do coração, que podem ser apaixonadas, partidas, tristes, alegres, ansiosas, esperançosas, ou mesmo por descuido com a nossa vida. Um ano é o cheiro da comida, da nossa casa, das páginas de um livro novo ou guardado, do perfume da mulher amada, do vinho na taça, da chuva na tarde de verão. Um ano é ouvir a noite e o silêncio interior. Um ano é a solidão, mas também é o conforto dos amigos próximos. Um ano, são os quilômetros de estrada e chão que cruzamos atrás dos nossos sonhos ou de simples férias. Um ano é a beleza de um arco-íris, de uma estrela cadente, de um museu, de uma peça de teatro, de um sorriso, de um “muito obrigado!”, “não há de quê!”, “disponha!”.
Para se ter um ano novo, basta esperar pela passagem dos 365 dias, 52 semanas, 8.760 horas, 525.600 minutos e 31.536.000 segundos do ano que se vive, e no último segundo do 365o dia comemorar o início de um outro ano.
Mas, para se ter um feliz ano novo, basta viver cada dia e cada noite, cada cheiro e cada gesto, cada gosto e cada cor, cada alegria e cada dor, cada amor e cada novo amigo, cada inverno e cada verão, durante os 42.048.000 batimentos do seu coração. Feliz Cada Novo Ano!
André Peres Barbosa de Castro

quinta-feira, 22 de dezembro de 2005

Cartões de Natal!!!!

31º DIA - Um Feliz Natal!!! (um pouco adiantado)

O natal é essa qualquer coisa que nos faz repensar o ano que finda, reencontrar pessoas que não vemos a algum tempo e mesmo suportar aquelas das quais queríamos uma folga do tipo "para sempre". Eu não costumo escrever nem cartões de natal, nem ficar desejando felicidades e paz aos homens de boa vontade, mas mesmo assim resolvi que seria diferente e tentaria escrever alguma coisa...

Não desejo a realização de todos os desejos nem de todos os nossos sonhos, porque sabemos de antemão que nem todos estão fadados a ocorrer, e nem a se realizarem do modo que a gente imagina ou mesmo gostaria; mas desejo que todos tenhamos por perto pessoas que nos auxiliem nessa busca, e outras tantas que nos consolem frente as frustrações. Desejo que saibamos cuidar mais de nós mesmos porque saúde não é dádiva apenas, é cuidado, é amor próprio. Desejo que não nos acostumemos com a violência, trancando-nos no conforto de nossas casas-fortes, nem nos resignemos da nossa situação social, achando normais, a fome, a doença, a miséria e a guerra. Desejo que cidadania não seja uma palavra usada em campanhas publicitárias a fim de eleger pseudo-representantes. Desejo que possamos nos reconhecer como nação.

Desejo também que tenhamos e possamos ser amigos leais e valorosos. Desejo que possamos ser bons pais e boas mães, bons filhos, bons netos, mas sobretudo, imperfeitas, porque querer ser perfeito é sobretudo ser chato. Desejo que possamos errar no dia-a-dia, mas que aprendamos a pedir desculpas. Desejo alegria a todos e o direito de sermos um pouco tristes também.

Poderia desejar muitas outras coisas nesse natal e nesse ano novo que se aproximam, mas desejo simplesmente que sejamos capazes de sonhar, de amar, de sofrer, de indignar-se, de lutar e de sermos felizes.

A todos os meus amigos e familiares, de ontem, hoje e sempre um feliz natal!

Abraços
André

quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

30º DIA - Feliz Natal a todos!!!

" Que Deus nos perdoe as pequenas piadas que temos feito contra ele, que nós o perdoaremos pela grande piada que ele tem feito contra nós!"
Lourenço Mutarelli

segunda-feira, 12 de dezembro de 2005

29º DIA - Descrença

Ando meio descrente, meio vazio de uma certa fé nos homens! Durante muito tempo acreditei que algumas coisas ainda fariam com que a gente acordasse, para então sonhar com um mundo mais justo, um país mais soberano e uma nação que fosse de fato o berço de um povo e não apenas sala de parto e caixão! Acreditei que a democracia, e o voto direto, seriam os principais educadores do povo na arte da política e da cidadania; achei realmente que mais cedo do que tarde, elegeríamos mais deputados, vereadores, governadores, prefeitos, senadores e presidentes mais comprometidos com o povo, votaríamos em projetos políticos e não apenas em nomes e compadres, coronéis e ladinos. Acreditava que o povo seria de fato representado e se faria representar, que iria gostar de política e celebrar cada eleição com gestos e ares de nobre papel, e não lamentando o domingo perdido na fila da seção. Achava realmente que nós todos brasileiros, apoiaríamos um governo de esquerda - apontando os senhores feudais, coronéis e ególatras com pose de democratas, mas asseclas de interesses pessoais, e que nunca perderam uma eleição por que sempre estiveram ao lado de golpistas, farristas e bandidos de plantão - como símbolo de vergonha, exemplo a ser esquecido, párias da nossa comunidade. Veio o projeto, não vieram os cidadãos! E permitiram que entre aqueles de boa intenção e índole se aglomerassem aqueles que nos anos em que nos (des)governaram, só tiraram o que nossas mãos ergueram para essa nação; estes que agora gritam: “corrupto!”, “ladrão!”, “bandido!”, “fajuto!”, “farsa!”, “raça!”, nos olhavam com escárnio, vendendo o que sempre foi nosso, despindo nosso povo de identidade, e fazendo-nos crer que fomos agraciados com imensas belezas e recursos naturais como na anedota, e passamos a achar naturais que milhões morram de fome e de frio, queimados vivos em ônibus e em praças, como se tivéssemos sido fadados a miséria como herança genética, e que essa não se encontrasse na mesma causa que permite que pessoas gastem o que tem com o que não precisam, nas lojas, shoppings, butiques e daslus, com a consciência absorta em cifras e etiquetas, anestesiada pelas endorfinas do prazer vazio do consumo non sense. E nas ruas ao entorno, os vizinhos de carros blindados, cercam as ruas e vias públicas tornando privado o que é meu, o que é seu; proferem seus discursos intelectualizantes numa mistura de fontes tão diversas como Havard, Paulo Coelho e revistas e jornais cotidianos, que partilham de sua mesma rebeldia ao culparem o povo por não ser capaz de escolher melhor seus representantes (mas quando o fazem tratam de descredenciá-lo por ser povo também, e manipulam as informações, e manipulam a nós todos, defendendo unicamente o establishment para preservar assim os privilégios que alcançaram). País esse que incrimina trabalhadores que desejam terra para, numa cópula simbiótica, torná-la fértil garantindo pão e vida, e absolve os oligarcas da terra vazia, que extraem dela a vida transformada em vinténs que alimentam cofres e bancos, mas que não matam a fome nem criam esperança; ao contrário nos abandonam e nos tiram a fé, nos tiram a fala, nos deixam a dor, para que mudos nossa voz não seja ouvida nunca quando nas rampas antimendigos, não pudermos dormir; quando nossa presença suja e fétida, incomodar as crianças ricas no playground da praça, e assim, ao morrermos na rua em frente a um hospital, tenhamos como epitáfio: “morreu onde sempre viveu!”.Tinha esperança de que pela educação tudo mudaria, que as escolas e universidades num esforço de alçar nosso país ao seu papel de nação, fariam de fato a revolução das letras e da leitura, e formaríamos mais que profissionais, cidadãos; que teríamos enfim uma universidade pronta para rever seus sistemas de seleção, e trariam para dentro da suas portas, todos aqueles dispostos a aprender, com sede de querer saber, e também aqueles homens e mulheres, que pela cor da pele, foram lhes negados o direito a igualdade, pois que um sistema social que segrega em favelas e guetos, cidadãos que como nós pagam também por essa nação, precisa ser combatido, afirmativamente e de forma solidária, e caberia as universidades essa bandeira erguer, e não esperar que as desigualdades sejam primeiro resolvidas, porque ficar apenas esperando, aguardando a solução definitiva não basta; nem bastará o assistencialismo das extensões-apêndices que não emancipam, mesmo quando socorrem. Mas fala mais alto o corporativismo daqueles que sabendo os direitos de todos tão pouco respeitados, brigam pela continuidade, a fim de reservá-los para os seus. E a educação fundamental, foi desconstruída por senhores e senhoras, coronéis e senhores de escravos, disfarçados sobe a sigla TFPPFLPSDBPTBPRNUDR, que sabendo a educação e seus professores os únicos opositores aos exploradores desse povo que não é nação, sabiamente os calaram, transformando esses cidadãos-que-formam-cidadãos, em seres que se amontoam na busca por complementação salarial, amargando horas a mais que o corpo agüenta, tornando-os autômatos de repetição contínua de um emaranhado de fatos, dados e explicações exigidos nos vestibulares, enquanto o conhecimento para a vida se esvazia de sentido e função. Acreditei por muito tempo que um novo recomeço estaria marcado e em andamento para formamos de fato uma nação! Hoje acredito nas minhas convicções! Não creio que serei capaz de ver minha nação, ser a nação de milhões de cidadãos e cidadãs! Não estou desistindo desse meu país, ainda acredito que ele pode ser maior que suas fronteiras e a mesquinhez de alguns de seus habitantes! Só não sei em que caminho ou estrada, encontra-se o caminho de volta ao futuro que sempre nos pertenceu, mas que nos tem sido tirado pelos representantes do nosso pior passado! Creio na esquerda, no socialismo e na esperança; nos homens e mulheres desse país.