Almanaque vem do árabe al-manakh, que é o "lugar em que o camelo se ajoelha". Ponto de reunião dos beduínos para conversar e trocar informações sobre o dia-a–dia.


terça-feira, 1 de janeiro de 2008

63º DIA - SANGUE

Sangue. Assim que cheguei à cena do crime pude ver o sangue espalhado pelo chão e pelo corpo da vítima. Um homem de 32 anos, solteiro, caucasiano, alto e um pouco acima do peso. Estava deitado no sofá da sala com os olhos abertos e um rasgo na garganta... Causa mortis: exsanguinação; Termos técnicos soam patéticos, a morte se deu pelo rasgo na garganta, a perda de sangue foi conseqüência. Não parecia haver sinais de luta, embora pela experiência, diria que o assassino fez com o que o mesmo abrisse os olhos enquanto lhe degolava ao modo de uma galinha. Restava entender os motivos!
Entrar na casa foi tão fácil, nas vésperas de feriado, as pessoas estão mais entretidas com em suas vidinhas que se quer se incomodam com os vizinhos do lado... Pulei o muro da casa e esperei... Podia ver o movimento dentro da casa. A porta da cozinha aberta. As pessoas sentem-se seguras cercadas por muros... Muros não impedem apenas a entrada, mas são como jaulas... Principalmente se só existe uma saída.
Nada de pistas aparentes. O IML removeu o corpo e esperávamos identificar algum parente, mas ele não era da cidade... A central recebeu um chamado dando conta de um barulho alto de rádio que vinha da casa vizinha. Ao chegar na casa a vizinha prontamente informou que achava estranho, mais do que incomodo, pois o vizinho seria um rapaz pacato, que nunca havia incomodado. O policial ao checar percebeu o portão aberto, e chamado o vizinho não respondeu. Na companhia do vizinho, entraram na casa e encontraram o cadáver. A porta da cozinha aberta e o rádio ensurdecedor ligado.
Entrei pela cozinha, e confesso que poderia tê-lo matado ali mesmo, mas prefiro esperar o momento certo. Abri a porta da despensa. Na verdade tratava-se de um vão de escada em que foi posta uma porta. Fiquei ali esperando. A espera me excitava. A lâmina fria percorria meu rosto e o tesão tomava conta do meu corpo. O poder sobre a vida do outro era o mais potente afrodisíaco.
Era provável que tenha esperado dentro da casa antes do crime e, segundo a perecia, o desgraçado se excitava com isso, ao menos era o que dava a entender pelas amostras colhidas por eles. Deve ter ficado ali bastante tempo, e então atacou o rapaz, adormecido no sofá, quando ele deve ter acordado e recebeu o golpe fatal.
Sorrateiro eu me aproximei, e observei alguns minutos. Aproximei-me mais dele até quase sentir sua respiração, tapei-lhe a boca, ele abriu os olhos.... A lâmina fria, o sangue quente e a doce satisfação enfim.
Agora, restava esperar que a polícia científica nos trouxesse outras pistas. Enquanto isso era aguardar até que ele cometesse um deslize e pudéssemos então botar a mão nesse filho da pu...
A polícia espera um deslize, uma falha minha.... Não sabem que até as minhas falhas serão premeditadas... Todos os meus erros serão previstos.... Assim eu garanto... eu o XIII.
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PS: esse texto foi escrito durante a madrugada, depois de ter assistido ao filme 'Zodíaco" de David Lincher. Aliás recomendo o filme.