Ando meio descrente, meio vazio de uma certa fé nos homens! Durante muito tempo acreditei que algumas coisas ainda fariam com que a gente acordasse, para então sonhar com um mundo mais justo, um país mais soberano e uma nação que fosse de fato o berço de um povo e não apenas sala de parto e caixão! Acreditei que a democracia, e o voto direto, seriam os principais educadores do povo na arte da política e da cidadania; achei realmente que mais cedo do que tarde, elegeríamos mais deputados, vereadores, governadores, prefeitos, senadores e presidentes mais comprometidos com o povo, votaríamos em projetos políticos e não apenas em nomes e compadres, coronéis e ladinos. Acreditava que o povo seria de fato representado e se faria representar, que iria gostar de política e celebrar cada eleição com gestos e ares de nobre papel, e não lamentando o domingo perdido na fila da seção. Achava realmente que nós todos brasileiros, apoiaríamos um governo de esquerda - apontando os senhores feudais, coronéis e ególatras com pose de democratas, mas asseclas de interesses pessoais, e que nunca perderam uma eleição por que sempre estiveram ao lado de golpistas, farristas e bandidos de plantão - como símbolo de vergonha, exemplo a ser esquecido, párias da nossa comunidade. Veio o projeto, não vieram os cidadãos! E permitiram que entre aqueles de boa intenção e índole se aglomerassem aqueles que nos anos em que nos (des)governaram, só tiraram o que nossas mãos ergueram para essa nação; estes que agora gritam: “corrupto!”, “ladrão!”, “bandido!”, “fajuto!”, “farsa!”, “raça!”, nos olhavam com escárnio, vendendo o que sempre foi nosso, despindo nosso povo de identidade, e fazendo-nos crer que fomos agraciados com imensas belezas e recursos naturais como na anedota, e passamos a achar naturais que milhões morram de fome e de frio, queimados vivos em ônibus e em praças, como se tivéssemos sido fadados a miséria como herança genética, e que essa não se encontrasse na mesma causa que permite que pessoas gastem o que tem com o que não precisam, nas lojas, shoppings, butiques e daslus, com a consciência absorta em cifras e etiquetas, anestesiada pelas endorfinas do prazer vazio do consumo non sense. E nas ruas ao entorno, os vizinhos de carros blindados, cercam as ruas e vias públicas tornando privado o que é meu, o que é seu; proferem seus discursos intelectualizantes numa mistura de fontes tão diversas como Havard, Paulo Coelho e revistas e jornais cotidianos, que partilham de sua mesma rebeldia ao culparem o povo por não ser capaz de escolher melhor seus representantes (mas quando o fazem tratam de descredenciá-lo por ser povo também, e manipulam as informações, e manipulam a nós todos, defendendo unicamente o establishment para preservar assim os privilégios que alcançaram). País esse que incrimina trabalhadores que desejam terra para, numa cópula simbiótica, torná-la fértil garantindo pão e vida, e absolve os oligarcas da terra vazia, que extraem dela a vida transformada em vinténs que alimentam cofres e bancos, mas que não matam a fome nem criam esperança; ao contrário nos abandonam e nos tiram a fé, nos tiram a fala, nos deixam a dor, para que mudos nossa voz não seja ouvida nunca quando nas rampas antimendigos, não pudermos dormir; quando nossa presença suja e fétida, incomodar as crianças ricas no playground da praça, e assim, ao morrermos na rua em frente a um hospital, tenhamos como epitáfio: “morreu onde sempre viveu!”.Tinha esperança de que pela educação tudo mudaria, que as escolas e universidades num esforço de alçar nosso país ao seu papel de nação, fariam de fato a revolução das letras e da leitura, e formaríamos mais que profissionais, cidadãos; que teríamos enfim uma universidade pronta para rever seus sistemas de seleção, e trariam para dentro da suas portas, todos aqueles dispostos a aprender, com sede de querer saber, e também aqueles homens e mulheres, que pela cor da pele, foram lhes negados o direito a igualdade, pois que um sistema social que segrega em favelas e guetos, cidadãos que como nós pagam também por essa nação, precisa ser combatido, afirmativamente e de forma solidária, e caberia as universidades essa bandeira erguer, e não esperar que as desigualdades sejam primeiro resolvidas, porque ficar apenas esperando, aguardando a solução definitiva não basta; nem bastará o assistencialismo das extensões-apêndices que não emancipam, mesmo quando socorrem. Mas fala mais alto o corporativismo daqueles que sabendo os direitos de todos tão pouco respeitados, brigam pela continuidade, a fim de reservá-los para os seus. E a educação fundamental, foi desconstruída por senhores e senhoras, coronéis e senhores de escravos, disfarçados sobe a sigla TFPPFLPSDBPTBPRNUDR, que sabendo a educação e seus professores os únicos opositores aos exploradores desse povo que não é nação, sabiamente os calaram, transformando esses cidadãos-que-formam-cidadãos, em seres que se amontoam na busca por complementação salarial, amargando horas a mais que o corpo agüenta, tornando-os autômatos de repetição contínua de um emaranhado de fatos, dados e explicações exigidos nos vestibulares, enquanto o conhecimento para a vida se esvazia de sentido e função. Acreditei por muito tempo que um novo recomeço estaria marcado e em andamento para formamos de fato uma nação!
Hoje acredito nas minhas convicções! Não creio que serei capaz de ver minha nação, ser a nação de milhões de cidadãos e cidadãs! Não estou desistindo desse meu país, ainda acredito que ele pode ser maior que suas fronteiras e a mesquinhez de alguns de seus habitantes! Só não sei em que caminho ou estrada, encontra-se o caminho de volta ao futuro que sempre nos pertenceu, mas que nos tem sido tirado pelos representantes do nosso pior passado!
Creio na esquerda, no socialismo e na esperança; nos homens e mulheres desse país.